Perca-se *
Se eu pudesse, se eu conseguisse, se eu apenas tentasse, eu falaria. Eu seria totalmente honesta, colocaria em pratos limpos todas as minhas vontades. Aprecio isso. Inclusive, acho que ser honesto é o mínimo que podemos fazer pelo outro. Mas a realidade é que tenho medo. Tenho medo de parecer ainda mais triste e ridícula do que eu realmente sou; enquanto isso me perco, ouço sambas tristes, brinco com meu cabelo o dia todo, fico impaciente, paro minhas (poucas) leituras, choro bastante por dentro. Sinto dor. Aquela dorzinha que fica o dia inteiro escondida, esperando chegar o fim da tarde pra aparecer no seu auge, que cresce silenciosa dentro do peito. Eu não tenho motivos pra sofrer, acho que por isso minha dor se faz mais autêntica, mais despretensiosa e difícil de ser remediada. Largo meus ombros, cansada. Penso em quantas vezes esperei por uma resposta. Penso em quantas realidades eu criei e em cada uma delas eu era imensamente feliz. Nesses momentos eu me jogava, eu era a melhor versão de mim mesma. Eu sorria, de olhos fechados. Na minha sala de estar com janelas grandes e vento constante - como se fosse um corredor pra todas as correntes de ar do mundo - nós deitávamos no sofá, em silêncio, abraçados. Por mais refrescante que fosse, eu sentia o cheiro confortante do seu suor, e no calor dos seus braços eu me soltava. Eu estava de olhos fechados. Na minha cabeça as luzes oscilavam, e os batimentos do meu coração diminuíam no ritmo da sua respiração; em nada eu pensava. Meu cabelo pendia pelo estofado, castanho, comprido, distraído, suado. Não havia inspiração que pagasse um momento de silêncio. Dentro de nós, entre nós, em nós - cabia o mundo - não cabia nada. Hibernava em você, na nossa rotina chata, no nosso amor calado... eu nada lhe explicaria, nada lhe falaria, nunca. Ou só quando estivéssemos tristes, então eu abaixaria o olhar e, como uma criança, pediria perdão. Então eu seria honesta. Entretanto, o mundo não tem lugar pra quem quer se abrir. Digo isso, porque tenho vergonha. Digo isso, porque eu procuro um significado minimalista pra tudo. Digo isso, por não saber NUNCA o que dizer. Por fazer da minha história - de pouquíssimos anos vividos - um lar de paradoxos e incertezas.
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