02/10

Ao contar minha história a estranhos, percebi que sua presença vaga por todos os subterrâneos, todas as cenas tristes. Mas é que, nelas, eu sempre estava dentro dos seus braços, com meus cabelos (na época vermelhos) manchando sua bermuda, tão alva quando nosso amor sem defesas. Pouco tempo se passou desde então. Porém, aqui dentro, sinto que foram-se anos, décadas. Eu queimo em ódio, em precauções. Mascaro minhas incertezas com afirmações. Quero saber o que você deseja, pra que eu possa desejar isso também. No fundo, eu nunca soube o que queria. E é insano pensar que ficamos tanto tempo debaixo do mesmo cobertor, compartilhando uma dúvida tão grande que nos engoliu e nos vomitou, separadamente, um a um, chorando bile e cuspindo ofensas. Quando me vi sem você, olhei o no espelho e lá estava um retrato desconhecido. Outras décadas me soterraram e todos os dias eu dormia com a dor de saber, com total certeza, que você jamais voltaria. Mas é, você voltou. E eu mal pude pensar enquanto você dominava meu espaço na cama e rugia de saudades. Eu tentei fugir. Ainda sim, você me seguiu. E apertados num espaço que mal cabia minhas pernas sozinhas, dormimos no calor. De vez em quando eu acordava e te tecia carinhos. Era surreal seu retorno. 

Entretanto, não sei que sentido nós temos. 




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