06-12

No aeroporto, ela esperava aflita. E perpassava o caminho, os cumprimentos no idioma local, fazendo-se entender apenas por si mesma e atraindo olhares estranhos. Em algum momento no futuro, ela chegaria no pouso do sonhar, desfrutando da desejada companhia de si mesma. Através do trajeto de postergar as decisões difíceis e a mania terrível de fugir de amores, ela sucumbe ao balanço hipotético da asa dos aviões. Há muito que se perder. A angústia, tatuada no peito à ferro, cresce em tamanho e chega a feder - o prelúdio do fim em si mesma. Perdida no breve momento de clareza, ela (ou eu), se vê enebriada pela necessidade de desaparecer. Não pode ser tão difícil assim. Não cortaram-se os nós, eles apenas foram esquecidos. Peca-se por alimentar o demônio fictício do bem-querer. Ele cria cenários de intensa paranoia, o tangível caos dos ansiosos. Por não saber onde procurar, por simplesmente não querer encontrar, pelo crescente medo de encontrar nele os sentimentos aqui nauseados. 
Por não querer dar o braço a torcer. 
O orgulho de imperatrizes depostas, sempre arrastando o manto amarelo pelo chão, tão hepático quanto coléricos. A tristeza de se buscar um amor de mão dupla em ruas sem saídas. 
O drama do não-saber e de não querer que se saiba. 

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