Do amor #7

Eu não sei o que te dizer. 
Não é apenas a tua partida. As milhas nunca me assustaram e é notório. Quanto mais longe, mais desconhecido e inóspito, mais eu cresço diante às adversidades. 
É que de uns tempos pra cá comecei a enxergar inconsistências, falhas sutis que a palavra não explica. Achei uns buracos pequenos em nossa trama. E me preocupam: será se são da costura, ou larvas silenciosas que se alastram durante a noite? 
Seriam fruto de uma verdade tácita e tangível que apenas eu não vejo? Ou o montante de inseguranças que vim abafando aqui dentro e de repente explodiram em estampidos agudos e exagerados? 
É uma das primeiras noites em que escolhi, deliberadamente, ficar só. E o silêncio corta como ventos frios de inverno. E sim, como era de se esperar, esqueci o agasalho em casa. 
Não há muito do que se lembrar. Procuro respostas racionais o suficiente que me façam ficar. Ou que me façam ir. Que ao menos movimentem meu corpo inerte de ser brinquedo na sua roleta russa. 
Talvez tenha que ser assim. Talvez chegou no momento de darmos nossas voltas, sozinhos. 
Ou de parar o tempo. E, congelados, nos olharmos fixamente nos olhos pela eternidade de poucos segundos. 
Não há certeza. 
É tão sólido e palpável, que se desmancha no ar. E em meio às luzes apagadas, eu vi, do lado de fora, meu vulto correndo, em fuga. 
E como uma presa amedrontada, eu esperava ouvir o estampido de um rifle. Entretanto, nada. 


Até agora, nada. 

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