Do Fim #1: lua cheia

Eu geralmente habito os fins.
E entre lágrimas salgadas, soluços e febres, recomeço o processo colérico de enterrar corpos ainda vivos.
Correm dentro de mim correntes irrepresáveis, forças naturais que se movimentam em constante caos.
Eu, geralmente, vivo amores inacabados, que ciclicamente circundam minha linha de vida e que pecam por não morrerem, efetivamente.
Ao falar Do Fim, não pretendo, no entanto, encerrar nada. Não é como se eu pudesse desistir. Não é como se tudo fosse se acabar.
Deste fim até o próximo recomeço, meu compromisso é com as fases lunares do luto, cheia, minguante, nova e crescente.

E se a lua cheia inspira desde lobos à amantes, corujas e meros transeuntes, aqui ela simboliza a forma perfeita de uma dor constate. Estática. Cheia. Plena. Inconsolável. Entre uivos e gritos, neste frio cortante que anuncia a chegada de junho, estou cheia. Farta.
Contudo, a beleza da lua cheia está nos breves momentos que dura: passamos pelas outras luas como se esperássemos o apogeu lunar, o ápice de sua beleza perolada. 
Na então solidão dessas noites frígidas, me encontro prostrada, a esperar. Me pergunto se, num raio de 500km, a lua ainda é igual.
Decerto que sentimos coisas parecidas e a saudade parece dominar.
É um tempo difícil para se viver amores lunares.

Comentários

Postagens mais visitadas