Do Fim #2: o céu azul do outono

tudo parou.

da mesma janela em que eu via você passar, hoje só passa o sol, que eu propositalmente deixei entrar
é que tem estado frio, sabe
do outro lado da rua, a grama seca e a fachada do hospital me fitam de volta
ao longo do dia, penso que talvez eu estivesse esse tempo todo sonhando
e dessa mesma janela, me recordo de me recordar de alguns dias
como aquele em que em menos de dez minutos eu entrei no vestido, enquanto você me esperava na porta do meu prédio
e viemos cantando o caminho todo até esta mesma janela, de onde hoje fito nossas lembranças
como se elas constantemente passassem sambando sob os meus olhos
ainda que no fundo toque o mais triste dos chorinhos
e o dia em que eu soube que tu partirias
saí por essas ruas, à esmo
as lágrimas bem seguras entre meus olhos e os óculos
um suor gelado escorrendo de minha tez

a cidade passando por mim, como se lá no fundo, ela soubesse
que enquanto os dias passam e se amontoam em riscos no calendário
a cada vento que soprar
continuaríamos dançamos sem rumo pelas ruas desta vida e de outras
buscando encontros nos desencontros
e torcendo para que este tudo jamais se acabe.

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