medo do fogo

conforme você se aproxima do fogo 
o medo de se queimar cresce, assim como as chamas em seus olhos 
de longe, vejo você se afastar 
e sinto sua vontade de retornar, a cada instante 

é como se no silêncio, você se comunicasse comigo 
mas sem que esteja escrito, sem que tenha sido falado 
me retiro no meu próprio refúgio 

existe um grande número de coisas que eu gostaria de te falar 
como nos meus sonhos você surge 
e toma meu corpo, minha mente 
e assinamos, juntos, nossos votos, nossas juras

talvez o tempo tenha brincado conosco, de novo 
e nos apresentado nossas metades, completas 
em meio ao caos da guerra, do desconhecido 

talvez a gente tenha se enxergado, se visto 
mas nos tenham faltado palavras e espaços 
talvez nos tenha sobrado passado e o futuro se viu 
diminuto, escondido, acuado no canto do tempo 

talvez eu não tenha conseguido te falar 
e certamente não pude te mostrar o que eu vi 
na parte pequena do futuro que acessei 
mas éramos tão felizes... 
havia um brilho tão sincero nos seus olhos...

ainda que eu tenha argumentos impecáveis 
e mesmo se eu pudesse, não o faria 
não posso convencê-lo a caminhar comigo 
é no altruísmo da escolha que nasce a raiz de todo bem 

por ora, guardo todas as palavras, as lágrimas 
o carinho, o calor, as chamas que dançam no escuro 
guardo as confidências que eu te faria, 
os relatos minuciosos desses dias

guardo também, memórias de um futuro que não pode se realizar. 

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