era pra ser uma carta, mas a gente mora tão perto...

Eu tenho essa mania de escrever cartas para os objetos do meu estranho amor. Talvez objeto seja uma palavra ruim... mas você consegue entender o contexto, eu acho. Comecei a fazer isso há muitos anos, mesmo antes de saber usar a palavra 'amor'. O interessante é que grande parte das vezes as escrevo e guardo pra mim, não como um tesouro, mas como um espaço vergonhoso escondido entre as pernas do meu inconsciente. 

Esses dias falei que eu queria poder te contar do livro que eu tô lendo, de um sonho que eu tive, de amenidades. Esse espaço entre os dias que a gente se fala parecem infinitos, mesmo tão próximos. O amor é uma urgência. E sentir falta é delicioso. Tenho a mesma reação toda vez, te vejo entre os espaços virtuais e me sinto partilhando de um delito. Aquela adrenalina estranha quando furamos o bolo e lambemos o chantilly antes de cantar parabéns. 

Me expresso melhor escrevendo. E falo em analogias tão sensorias que elas fazem eu perder - como num lado B do mito de Ariadne. Eu, Ariadne, me enrolo no novelo e flerto com o minotauro, equanto Teseu pula os muros do labirinto para se achar. Loucura, né? 

Tô lendo sobre o amor. De novo. Daquelas leituras que você fica calado, engole seco, deseja um cigarro, um soco, um atropelamento e um sexo que dure 12hrs. Entre outras coisas, essa leitura específica fala sobre como o amor é sobre a falta. 

Apaixonados, idealizamos o que o outro pode ser, e nessa fanfic perfeita, impecável, encaixamos esse personagem - o meu, nesse caso, é você - e sonhamos acordados com um largo potencial. A realidade é frustrante. E quando vemos os furos, os buracos dentro dessa fantasia impecável, nos cortamos de decepção. Caso sobrevivamos, remendados, reais, nus, errados, sombrios e coléricos, o resto é o amor. 

Tô tentando ver entre os furos de você e ainda sobra um homem bondoso, inteligente, farto de vida. Por mais que eu sei que ela não tenha sido fácil com você. 

Eu sei que você já viu alguns dos meus furos - um lado vil, manipulador, as vezes até meio perverso. Tarado. Mas algo me diz que você gosta um tiquinho disso. Sei lá. 

Vim aqui, entre outras coisas, expor alguns furos meus: meus pés são horríveis. Já quebrei todos os dedos do pé lutando. Minha primeira reação é sempre mentir, por mais que eu não esteja ameaçada. Meu remédio para qualquer coisa é desaparecer e voltar 10 anos depois. Finjo que sei o que eu tô fazendo. Tenho uma tendência ao alcoolismo. 

Esses dias você me perguntou o que eu pleitearia, se eu pudesse pedir qualquer coisa. Acho que eu pediria uma praia deserta, uma dose de pinga e um balde de aleatoriedades com você. Nesse paraíso intocável, não existem malabarismos a serem feitos, eufemismos que escondem a traição, a dificuldade que tenho de te perguntar algumas coisas. Talvez a gente até ficasse em silêncio - tão em desuso hoje em dia, mas que eu, pessoalmente, amo. E depois eu escreveria um imenso poema, que eu jamais te mostraria. 

Espero que a gente se encontre nos nossos furos. 

Com muito amor, 

Amanda. 

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