a escrita
eu quero escrever um livro. mas quero escrever um livro de estórias, com e. um livro composto pela realidade, mas que a partir do momento em que eu escrevo, ela se aficciona, transmorfa, em algo único, mágico e improvável.
eu quero escrever um livro. um livro onde eu não use letras maiúsculas, igual à aquele autor que eu não suportei o começo, mas que é ovacionado pelas vanguardas. quando vou lembrar dele, só me vem Mia Couto na cabeça, e sinto que Mia não seja tão bem degustado.
eu quero escrever um realismo fantástico, mas também poesias, crônicas e biografias. quero ter a liberdade de escrever algo mediano e ser aplaudida, mais do que algo bom que fica guardado só pra mim, como tem sido.
eu quero escrever minhas histórias, com todas suas gracinhas, meu humor bem posicionado para não pesar o clima. quero escrever histórias de amor, desejo e sexo, mas também de violências e vingança, de redenções e melhorias, de vitórias das mulheres sobre a dominação. minto, não de todas as mulheres, a minha vitória sobre meus algozes. mas também não quero que eles sejam meus antagonistas - esse é um lugar charmoso demais para colocá-los.
eu quero escrever um livro, mas toda vez que abro a folha em branco, me desapareço nas possibilidades, me derreto nas sabotagens, me perco na linha do tempo. existe preparo? existe processo? existe linha do tempo? eu acordo com a história pronta ou ela se escreve conforme escrevo?
Comentários
Postar um comentário