se é isso que você acha

como uma pessoa com astigmatismo à noite, enxergo só pontinhos brilhantes:
me disseram que o processo de clareza envolve nitidez; 
minha clareza é sinestésica e se desenha mais em som...
ou desfaço da ideia de que está claro e aceito os borrões como resposta?

"se é isso que você acha, tudo bem". foi a frase que mais falei nesse término, enquanto eu via ele se desmontar em pedacinhos na minha frente, partindo do vamos-resolver para um você-é-aquilo-que-falaram-de-você e um eu-mereço-mais. quando na verdade sou eu que venho bebendo água no conta-gotas. sou eu que venho me espremendo, cansada, entre frestas pontiagudas, navegando num mar perigoso de agressões e paixões; estas últimas, confesso, andam em falta recentemente. 

me falta um tanto de eu nesse espaço, apesar de você achar que tem muito eu e pouco você. você repetia: "isso é porque eu te amo mais do que me amo", e eu discordo. acho que você se ama tanto que não reconhece quando eu me levanto. não se preocupa com o que me serve. acha que servir é castigo, quando experimentamos troca. troquei com você meu tempo, experiências, corpo, voz, suor e silêncio. troquei um copo que quebrei por mais uns meses com você. pra quê? 

"você foi a pessoa que eu mais amei", contracena com "não tenho tesão em você há muito tempo", como se fôssemos um casal de meia idade e eu, na menopausa, não oferecesse um corpo-carne à um homem-faminto. quando na realidade, faltou desejo da minha parte. terminei porque não te desejava mais. desejava domingos livres, saídas felizes, conversas cheias de criatividade e ambição. desejava brilho no olhar, toques quentes, sentir saudades. 

"vamos tentar de novo?", quando na verdade, não quero tentar. quero conseguir. não quero prologar sofrimentos. não quero pote de ouro ao final do arco-íris. 

o complicado tem me complicado.

Comentários

Postagens mais visitadas