normal

talvez eu queira contar a história de como agora tenho dois namorados. na verdade, uma namorada e um namorado. e como esse caminho todo de redescobrir o desejo tem a ver com eu parar de me recriminar por ser eu mesma e querer as coisas que eu quero e começar a dar espaço pra tudo - como aquelas pessoas que falam que temos "direito à loucura". exceto que não sou doida, sou bem normal. quando eu era criança, minha mãe falava que eu era normal, toda vez que eu perguntava se ela me achava bonita ou inteligente. aos olhos dela, não tinha nada de exuberante ali, o que é engraçado: vejo em mim uma normal exuberância. 

hoje meus dois namorados me mandaram mensagens iguais, na mesma hora. achei curioso e pela primeira vez, comecei a reparar que eles talvez tenham mais coisas em comum do que namorar comigo. e aí entendi que o desejo encontra a falta dele e que os dois são pessoas que se refreiam muito e encontraram na paixão por mim um lugar para pensar em como seria legal se eles "tivessem coragem" de fazer "tudo que eu faço", sendo que "tudo que eu faço" é amar eles. sem muito medo. 

quando eles me olham com aquela carinha eu penso que talvez eles estejam vendo a coisa mais bonita do mundo naquele momento. e aí lembro que sou só eu e fico "ué". e quanto penso que de tantas pessoas no mundo eu achei duas que me amam da mesma forma, no mesmo momento, eu penso em como sou sortuda e como coisas extraordinárias acontecem comigo, e como realmente talvez eu seja normal, mas com um dendê a mais de não ter mais tanto medo. 

essa semana tenho estado ansiosa porque preciso expulsar meu colega de casa, de casa. sim, expulsar, porque ele age comigo com a mesma violência que minha família agia e percebi que eu nunca me defendi de nada e nem de ninguém. sempre me vi sozinha nesse lugar de quem se sente esquisita por ser exatamente quem é. percebi que ele só me manda mensagens desaforadas quando eu estou feliz com um dos meus namorados em casa - nunca com os dois ao mesmo tempo. 

tem sido bonito lutar por mim mesma e buscar formas de cuidar dessa casa. lutando para existir nesse espaço. desafiando algumas regras do convívio social, mas de novo, quem nunca? hoje saí do salão e tinham velhos ouvindo "sociedade alternativa", ao lado da estação central. fico pensando que os velhos da sociedade alternativa me achariam muito rock n roll por usar o cabelo vermelho e subir na moto de vestido. 

eu sou normal até demais. 

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