mulherada
quando beijei letícia, ao som de flerte revival, eu ouvia as batidas da música eletrônica sincronizadas com meu corpo que pulsava e ardia e sentia boca, dentes e língua, uma vontade de me enroscar na cintura e nos cabelos.
na análise há duas semanas paula me perguntou qual minha posição diante das mulheres e depois pensando fiquei meio "uai, mas não sou uma mulher também?", se acaso fosse necessário convergir a posição que tenho na vida delas e a posição que eu, mulher, tenho aqui dentro. e aí quando beijei letícia essa pergunta rodou e eu queria poder me ver com os olhos dela, naquele momento.
me ver e reconhecer mulher é algo que vem e vai e nunca tenho certeza se me vejo assim, nesse corpo. me dá vontade de sair perguntando, balançando os braços e gesticulando. entre bruxas, professoras e bandidas, o papel que ocupo parece ser de quem sabe mais. parecer saber mais me dá espaço para aprender sem críticas, a como ser uma mulher maior. e vou me nutrindo delas entre beijos conversas sassaricos viagens brigas convenções desconstruções e tudo mais que pode caber nesse espaço caótico que é ser mulher. me envaideço quando finjo saber e algo estremece dentro de mim quando uma mulher perdida reconhece em mim a bússola que nunca tive.
e aí tá: talvez eu queira ser bússola. ao mesmo tempo que não quero. não sou parâmetro de nada. mas fico feliz quando me consideram. me perguntam se não me incomodo de aparecer de toalha na internet. e eu apareceria até nua, se não fosse me dar um problemão. a realidade é que não me incomodo em ser eu, apesar de ser difícil pra caramba.
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