Pois que fuja! (*)
Eu deveria estar cansada, sabe. Cansada, no feminino mesmo, pois é isso que sou. Eu deveria ter me contido na alegria estonteante em que estive. Afinal, saí direto de Carandiru para um mochilão por Amsterdã. O mundo explodiu na minha retina em mil cores, e perdão, se você, assim como eu, lê este blog e se cansa deste mesmo assunto. Mas é que me assusto. Me assusto por estar sozinha em casa, me assusto por ninguém me ligar no sábado à noite, quando eu, no auge da menoridade, abro a porta devagarinho, com medo de despertar as aranhas que se alojaram no meu quarto. Não há mais ninguém. Moro sozinha. Moro comigo. Me conheço bem; não que eu goste; não que eu não quisesse. Mas é estranho sabe, olhar para o assoalho e ver alguns pares de meias jogados e a consciência desnuda a clamar por limpeza. Bebo meu vinho, me jogo boêmia no sofá, assistindo meus programas em inglês. Ultimamente não quero falar com ninguém. O choro me vêm fácil, manso, como se eu estivesse mesmo muito triste, sabe. Posso ser grande. O mundo precisa de mim. Será hipocrisia pensar no mundo quando meu mundo se desdobra em pedaços desfigurados de uma obra impressionista que venta, que grita, que chora em vermelho? Será hipocrisia falar em caridade quando eu mesma guardo mágoas tão sujas e feias? Minhas cicatrizes de guerra ardem novamente. Minhas dores são a erosão de minh'alma, que dança, pobre, em um palco de vergonha e exótica beleza. Eu quero fugir.
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