Eu voltei *

Eu voltei. Não é bem como eu queria, mas acho que foi uma odisseia de fatos extraordinários, de dias fabulosos, de viagens de carro nas montanhas, de amores de verão. De dias frios, chuvosos, em que sair na rua era um pretexto pra tomar um café bem quente e olhar para o céu sem saber o que tem por de trás de nuvens tão escuras, tão densas, perdida numa ilha poderosa, de onde eu não queria sair nunca mais. E nem vou. De dias também quentes, de deixar o rosto vermelho e no peito a vontade de tomar sorvete todos os dias. Fui em castelos, em ruínas, andei por ruas onde a história marcava cada esquina de uma forma invisivelmente assustadora. Tive vontade de chorar, até as lágrimas secarem, mas um choro de triunfo, de alegria. Um choro de auge. Também ri bastante. Até a barriga doer. Ri de desespero, ri pra não perder tempo, pra não deixar passar os melhores dias da minha vida. Em cada canto, em cada foto, em cada música, em tudo: eu estive lá. E vou voltar. Em cada pensamento, em cada lenda: eu vou voltar. Estou triste, tão triste, vivi coisas tão belas, vi coisas tão sutis, que me pergunto: será real? Entrei e saí de um sonho perfeito, que teve que acabar. Pra começar de novo, um dia. E quando achei que havia terminado, sentada no chão do terminal vazio, as surpresas vieram. Elas sempre vêm, de fato. Eu gosto de surpresas. Gosto de cafés, de refrigerantes de cereja, gosto de luzes baixas, de viajar de carro pelas montanhas nebulosas, de dias verdes, azuis e brancos, de poder, de um falar cantado. Eu sou matéria dos lugares em que vivo, sendo que vivo em todos e em nenhum. É, c'est la vie

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