Haicai da Solidão

Na janela oposta a minha, no prédio do lado, uma moça fuma um cigarro. Só consegui vê-la pela ponta do cigarro vermelha em meio às redes de proteção da janela... E no meio de tantas casas, tantos televisores acesos e carros nas ruas, eu vi que ela estava tão sozinha quanto eu estava. O abismo era tanto que nem gritar eu podia - é imoral - e o escuro da área residencial não me permitia acenar minha empatia. Então eu pensei em escrever a ela um poema, unilateral, secreto. E vi que na brevidade de seu cigarro, ela se foi (...) 
Eu não fumo mais. 
E pra te ser bem sincera, não sinto falta. 
Os vícios são formas desesperadas de nos mantermos vivos. 

Fumaça à noite
Na janela eu a vi 
Grades do nada. 

Eu te fiz um haicai, moça. 

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