Reclames
As náuseas mentais me pegam durante as viagens de carro, enquanto traço paralelos entre o que é e o que outrora fora. O Tempo me tira o ar e às vezes tomo longas pausas durante o dia, enquanto comento de sua rapidez, sua presente ausência. Eu não o vejo mais passar. Só correndo, furtivo, pelos cantos, me espreitando com um sorriso de condolências. Ele sabia, afinal de contas. Ele sempre soube.
(...)
Ontem, carreguei um bebê nos braços. Seu sorriso era tão intenso e puro que eu fiquei mirando por horas. E ele me olhava, com a curiosidade e a alegria de quem nada sabe. Me perguntei quantas vidas adultas já me tomaram pelos braços, enquanto eu, criança, os olhava profundamente sem, no entanto, nada ler. Me pergunto se tais pessoas me abraçaram forte, a me abençoar previamente das dores que se abateriam por mim.
Me pergunto se alguém notou que dentro de mim, de uns tempos pra cá, passou a morar uma nova inquilina. Às vezes ela faz festas aqui dentro e eu choro. Mas o pior é quando ela se cala e acende um cigarro. É como se eu morresse por dentro.
Sento-me, nua, diante desse cerco da vida.Vejo as mesmas luzes pela janela, com olhos diferentes. Sou um poço de sonhos adormecidos e esperanças que não se renovam quando o dia amanhece. Creio que envelheci.
Me vejo do teu lado nas fotos. Em eventos nos quais nunca estive. Não consigo mentir para mim dessa vez. Talvez isso que doa mais.
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