Belo Horizonte
Eu nunca soube nome de rua nenhuma. Na Av. do Contorno, paro e checo no mapa. Só sabia que era aqui que eu estava porque me lembrei daquele carnaval, em que eu desci na Praça da Estação, o corpo suado, queimado, cansado. Bêbado, desequilibrado. Fui caminhando até a Andradas, levando meus confetes e minha dor.
No meu carro, à noite, furando os sinais. Olho as ruas. Me vejo nelas, num passado não tão distante. Onde hoje passam carros, passava eu. Tão pequena, sem consciência do quão viva era a cidade e do quão morta eu estava.
Desço do ônibus e sempre passo naquela esquina. Hoje ela está pintada, cuidada. Mas naquele dia 13 de fevereiro, quando você me deu um ultimato: pra mim é tudo ou nunca mais. Eu escolhi o tudo. Nunca mais te vi. Você se evaporou como a fumaça dos meus cigarros, que eu acendia um atrás do outro... hoje parei de fumar.
Nos bancos da Praça da Liberdade, me lembro de quando achei que eu estava apaixonada. Sempre febril, eu olhava para os lados, esperando vê-lo. E meu coração queria tanto bater no batuque do tambor que te abracei como carnaval. Assim como veio, foi embora. A paixão não fura armaduras.
Vivendo na boemia de Belo Horizonte, cada canto da Savassi tem um cado de saliva que deixei pra trás. Ai, se os prédios falassem. Naquele dia, quando o vi, pensei que fosse miragem. E meu medo de que essa paixão também não me fure, não me alveje de tiros, e que eu acabe fria e tórrida em qualquer bar do baixo centro, é maior que eu. Eu só quero sentir algo.
Mas a minha dor maior foi deixada nos bancos entorno da Lagoa da Pampulha. Um dia eu sentei lá. Ele tocava minhas músicas favoritas no violão. Eu cantava. Ainda não sei ao certo se eu consigo cantar, acho que minha voz racha ao meio, despretensiosa ao sair de mim. Voltamos ao carro. Nos amamos. Alguns meses depois, no mesmo 13 de fevereiro, você não estava lá. Ninguém estava.
No espaço-tempo entre os carnavais eu descompasso. Ando fúnebre pelas ruas, sempre com extrema cautela, ainda que me arranhe ao estacionar. Minha cidade é viva.
Eu não.
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