Colheita
Esse romantismo que enterrei, sepulcrei sem sequer velar, hoje me sonda como um fantasma, uma alma penada.
Meus eus dançam de mãos dadas, perdidos entre minhas versões entre os verões, que são minha melhor época de se apaixonar.
Mas você, conheci no inverno. E na secura do mês de agosto, eu lembro de me perfumar e de saber exatamente o que aconteceria no instante em que a gente se visse.
E meu eu místico, intuitivo e poderoso, me lança mensagens precisas sobre o que será. Me conduz nessa dança imponente, reinando sob o céu amarelado. Me navega entre as incertezas.
Existe, no entanto, um eu frágil, pequeno e infantil. Um eu medroso, que nunca competiu em nada em que a vitória não fosse certeira. Um eu que viveu dentro de casa. Que carrega uma sombrinha na bolsa mesmo quando não chove.
Entre a intuição e o medo, a ação fica contida. Meus gritos calados. As cartas de amor, nem sequer escritas. Abro essa página em branco em vão - e ela me assusta todas as vezes, ao me olhar de volta.
Enquanto nos amadurecemos feito fruta no pé, esverdeando e avermelhando entre as quatro estações, por vezes caímos e somos colhidos em tempos diferentes. Não nos encontramos na cesta, atraímos pragas. Nos apodrecemos. E no florescer eterno da nossa existência, renascemos sempre no mesmo pé.
Agora eu, fruta madura, com medo de cair, te peço: me (a)colha!
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