primeiro de maio.
Hoje, dia primeiro de maio, decidi terminar com você. No dia do trabalho, eu me vi nas raízes literais da palavra - tripallium - um antigo instrumento medieval de tortura. Vi minhas tripas escorrendo pelos olhos - e só Deus e eu sabemos o quanto eu fico feia chorando.
Hoje, dia primeiro de maio, resolvi limpar a lavanderia, aquele cômodo regado a cocô de gato e aranhas que se acumulam entre as tralhas acumuladas. Fui tirando tudo, jogando fora, sentindo um prazer sepulcral misturado às dores nas pernas do período menstrual. Enquanto eu tirava o que não presta, me vi jogando fora todo tipo de coisa - coisas que um dia foram novas e outras que eu nem sequer reconheci.
Hoje, dia primeiro de maio, varri os restos mortais dos balões do meu aniversário - que foi há 9 dias. Entre restos roxos e vermelhos, como hematomas, vi as bexigas sem ar, esquálidas, sem propósito. Lembro-me da gente enchendo, balão por balão, e fazendo arranjos robustos, quase que suspensos no ar. Nossa relação envelheceu como as bexigas soltas ao tempo, na contradição do sufocamento por falta de ar.
Enquanto eu varria, vi a tristeza nos seus olhos, como quem se despede de mim, da casa, da vida e da promessa que tínhamos. Vi um desalento pesar. Mas você não chorou. E eu me afoguei nas lágrimas, uma a uma, que rompiam sintomáticas pelo meu rosto, se espalhando no cabelo e colo.
Hoje, dia primeiro de maio, me pendurei pelas tripas, igual mostruários de açougue. Comecei a enxergar a casa em ruínas, mas também a mim, nesse mesmo lugar. O que será que existe depois que isso tudo passar? O que deixei passar enquanto tudo passava? O que será do resto das bexigas vermelhas e roxas como hematomas?
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