Sapiens

Você enche a boca pra falar que me conhece. Que julga minhas nuances efêmeras e mutáveis, que sempre mudo de ideia. Julga que parei de gostar de ouvir sacanagens, que nunca nada te falei, que guardei comigo tudo que havia entre nós. 

Questiona minha terapia, minha profundidade, minhas contradições. Sutilmente conduz a conversa como quem dança com medo. 

Acho graça na segurança com a qual você fala de mim. Nem eu me conheço tanto. Sequer tenho confiança para afirmar tão categoricamente que sou sim, mutável, que tenho uma essência que transita livremente. Do contrário, me acho bem aguerrida. A diferença que o faço num silêncio tátil. 

Você enche a boca pra falar que te atraio, que temos as mesmas referências, que compartilhamos de muito. E cada dia que passa sei menos de mim, quiçá de você. Não compartilho, não falo, não exponho. 

Se não sei de mim, como você há de saber? 

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