Lentes (*)

As fotos não envelhecem. Deve ser por isso que as tenho bem quistas junto ao peito. Por isso as envio, guardo, escrevo por detrás do papel brilhante coisas que talvez eu não entenda daqui a 10 anos. Mas das fotos me lembro. Inclusive daquelas enviadas por engano, que não fazem sentido algum, permanecendo como uma divertida reminiscência de um erro qualquer. Porém as fotos de amores eu sempre apago, queimo, escondo para nunca mais achar. Elas me magoam, sobem ácidas pelo estômago e mesmo que eu pareça fria e inerte: eu amei. Algumas poucas vezes e em alguns poucos momentos, não o tipo de amor convencional, que é eterno. É um amor fotográfico, que se plastifica instintivamente, por saber que vai morrer. Agora o seu é diferente. Não lhe pedi nenhuma foto, ela veio sem que eu pedisse. Assombrosamente irregular, com uma luz escura, amarela, aquela luz mesma que estava no nosso céu quando eu te vi. E eu tinha uma cara de cansaço, de menina, de alegria. Quero-te pra sempre, mesmo que nosso sempre seja somente aquele da fotografia. Nossa eternidade não se resume só aos universos que criamos, mas aos que encontramos por aí. 
Por favor, não me apague dessa vez. 

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