"E assim, ele foi curado" *
Agora eu entendo. Entendo você, meu irmão. Que foi produto de escolhas mal feitas, justificadas em sua pouca idade. Que foi julgado como produto dessas escolhas, mesmo sabendo pouco o que isso significa. Entendo agora, como você se sentiu quando viu tudo que era seu, dentro do seu imaginário infantil, ruir diante dos seus olhos, como aqueles blocos de brincar que nós adorávamos. Imagino você deitado, as lágrimas escorrendo enquanto lembrava do seu quartinho, das suas coisas... do cheiro que você emprestava à casa. Poucas vezes você falou sobre isso, mas eu posso sentir - desde aquela época eu já sentia - o quanto dói. Ver nossas vidas reduzidas à um punhado de roupas encaixotadas, sendo entregues em algum lugar que supostamente será nossa casa daqui pra frente. Ver as mudanças acontecerem em nós, sendo que nós mesmos nunca desejamos isso. Acho que o pior dentre todas as coisas é sermos privados de sentir, seja o que for pra sentir. Sermos reprimidos em nossos amores, nossas raivas. Sermos reduzidos em nossos sonhos. Somos foragidos de nós. Agora eu entendo. Precisei ser largada dentro da mesma profusão de torturas e portas sem fundo que você um dia fora jogado. Provei do abandono. E quando ontem sonhei que eu te abraçava e chorávamos - um genuíno choro, que exprimia uma dor que não cabe em palavras, e nem nunca vai caber, eu percebi que tenho que nos salvar. Percebi que cabe a mim fazer de ti a melhor parte desse inferno.
Eu não acredito em infernos.
Eu te amo, irmão, sempre vou te amar.
Eu te guardo no peito, não em caixas. Eu vou ser nosso porto, nosso escudo. Só peço que me espere sair daqui.
Eu te guardo no peito, não em caixas. Eu vou ser nosso porto, nosso escudo. Só peço que me espere sair daqui.
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