O que aconteceu? *
E de repente, entre as nuvens cor de rosa, num céu mais cinza do que azul, eu partia. Não havia muito o que levar, eu só precisava passar em casa e pegar meus casacos pesados de inverno. Eu só precisava passar em casa e arrancar meu papel de parede. E ver se eu encontro meu isqueiro. Não desisti de nada, só não quero me despedir. Me isolar era uma estratégia para que eu não me misturasse. Mas como, se eu sou fruto da maior mistura de todos os tempos? Se sou isto e não aquele velho preto-no-branco? Pelos lugares que passo deixo meu rastro bem visível, bem marcado e cheio da minha confusão. Deixo que falem de mim por uns tempos, que vejam minhas fotos em terras distantes, que pensem que eu estou esquecida. Que eu deixe de ser assunto e me torne memória. O fim não tem fim. E é por isso que estou inundada de finais de pontas de cigarro, me contemplando com hálito ruim de café amanhecido. Me imagino daqui alguns meses e meus olhos se enchem de lágrimas. Nem tudo pode estar perdido. E caso esteja, melhor que se percam a serem encontradas mortas à beira de uma estrada qualquer.
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