08.04

Me derreto em cansaço e ternura ao passar por toda e qualquer rua e ver espectros nossos rondando o lugar; já tive essa sensação outrora e pareço caminhar dentro de um labirinto circular, cada vez mais fundo dentro de mim mesma. Talvez, um tanto quanto abandonada, por escolha própria. As paredes de meus vizinhos soerguem luminosas ao lado da minha e eu, sem os óculos, forço a visão para escrever sobre poesia, sistemas internacionais, opressões em escala, sobre mim, sobre o que eu um dia fui. Confesso que sei pouco a respeito do que me acontece, confesso que agora que os dias se somam em outonos cada vez mais esparsos e cinzentos, eu me pergunto onde nossos pés descansarão ao final do dia. Ignoro as dores do corpo; quem sabe eu até tenha interesse em vê-las doer, para que eu esqueça de cortes ainda mais fundos que permanecem sem solução ou cura. Certamente que há um mal que me aflige. Um rubor a rondar meus seios e a descer pelo ventre. O vazio de não gerar nada, além de vazios cada vez maiores.
Perdi minha capacidade de articular o que sinto. 
Quero me congelar neste espaço-tempo e dançar sozinha pelas noites frias, os flocos caindo como lágrimas de um céu que um dia se moveu. Não quero que no meu reino exista 'pressa'

I mean every word of it. (Nina Simone) 

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