machado de assis e de xangô
Eu me lembro de ter entrado no seu quarto, ter tirado os sapatos, os brincos e os óculos. Desliguei o celular e me deitei na sua cama. Esperei você fumar seu cigarro e você deitou do meu lado. Eu me enrolei toda no seu peito e chorei como uma criança perdida. Sua camisa ficou transparente, banhada nas minhas lágrimas, sufocada pelo meu desespero. E você me dizia: 'pode chorar', e eu recomeçava, um tanto quanto desesperada, a ranger os dentes. Por vezes, ainda, você segurava meu rosto e me olhava nos olhos. 'Não estamos mais juntos', eu pensava. Ora, pelo contrário... estávamos mais juntos do que nunca. Juntos pelo nosso fio vermelho, que nos enrola e nos enforca. Juntos na dor de não podermos estar juntos. E eu sentia seu cheiro e lhe beijava as bochechas. Nosso amor transbordava e inundava o quarto, a ponto de estarmos quase submersos. E quando eu me deitei de costas, me encaixando em você, eu senti o peso do mundo nas minhas costas. Senti meu rosto formigar e a vista girar, como se eu estivesse prestes a largar tudo para trás.
Você é tão bonito.
Eu lhe tocava o rosto e sentia sua respiração perto da minha. Não é possível que isso seja real. Eu estava lá, eu vi. Estávamos sós mas havia um mundo todo conosco. 'São os laços de Oxalá', você disse. E eu só pensava: 'que as águas de Oxum lavem essa sujeira em que nos metemos...'.
Eu te amo.
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