08/03
Não me lembro quando foi que me olhei no espelho e vi.
Mas sei que ela esteve sempre lá.
Por vezes, se eu prendesse o cabelo, começasse a cuspir, calçasse chuteiras, ela se escondia. Quieta lá dentro, ela mal falava comigo.
Em outros momentos, imersa em cor-de-rosa e bonecas Barbie, eu a ouvia gargalhar - uma risada fina e forçada, de quem sempre deveria parecer feliz.
Aos 11 anos, ela se machucou. E parece que jamais se recuperou. Todos os meses ela sangrava, chorava, se enraivecia. Eu a acalmava. Mas eu não sabia o que fazer.
Aos 12, ela passava as mãos sobre o colo, atônita. E a partir de então, ela me dizia "lá se vão as tardes brincando na rua... os banhos de mangueira sem camisa...", entre suspiros.
E partir de então, ela ficava cada vez mais escondida, disfarçada entre quilos de maquiagem, alisamentos no cabelo, salto alto, pernas cruzadas, convenções sociais, regras de etiqueta, relacionamentos heterossexuais, casamento, filhos.
Não que essas coisas fossem ruins.
Mas ela, essa mulher que sempre esteve lá, não podia escolher. Ela estava aprisionada.
E aí que eu vi.
Olhei no espelho e me vi. Vi a mulher que, ao longo dos anos, foi se formando aqui dentro.
Uma mulher.
Acredito que ela me viu também. E hoje, tentamos conversar.
Eu lhe disse: "o que você quer fazer?"
E ela me respondeu: "transgredir..."
Mas sei que ela esteve sempre lá.
Por vezes, se eu prendesse o cabelo, começasse a cuspir, calçasse chuteiras, ela se escondia. Quieta lá dentro, ela mal falava comigo.
Em outros momentos, imersa em cor-de-rosa e bonecas Barbie, eu a ouvia gargalhar - uma risada fina e forçada, de quem sempre deveria parecer feliz.
Aos 11 anos, ela se machucou. E parece que jamais se recuperou. Todos os meses ela sangrava, chorava, se enraivecia. Eu a acalmava. Mas eu não sabia o que fazer.
Aos 12, ela passava as mãos sobre o colo, atônita. E a partir de então, ela me dizia "lá se vão as tardes brincando na rua... os banhos de mangueira sem camisa...", entre suspiros.
E partir de então, ela ficava cada vez mais escondida, disfarçada entre quilos de maquiagem, alisamentos no cabelo, salto alto, pernas cruzadas, convenções sociais, regras de etiqueta, relacionamentos heterossexuais, casamento, filhos.
Não que essas coisas fossem ruins.
Mas ela, essa mulher que sempre esteve lá, não podia escolher. Ela estava aprisionada.
E aí que eu vi.
Olhei no espelho e me vi. Vi a mulher que, ao longo dos anos, foi se formando aqui dentro.
Uma mulher.
Acredito que ela me viu também. E hoje, tentamos conversar.
Eu lhe disse: "o que você quer fazer?"
E ela me respondeu: "transgredir..."
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