arrastar.

belo horizonte, 31 de dezembro de 2024. na verdade, 23:42h do dia 30 de dezembro de 2024. quando li sua mensagem. 

sergio, 

eu acho que eu me expresso muito mal. e talvez por isso eu fique buscando as palavras certas, e te ligando, e te falando tudo numa verborragia que vira e mexe se contradiz. porque vou falando em excesso como forma de esconder o que eu não falo - ou, no melhor e mais fantasioso dos cenários, como uma forma de transformar o que as coisas são, no que eu gostaria que elas fossem. nesse curto espaço de expressão, eu posso fingir que tudo é real. eu posso diminuir ou aumentar personagens de tamanho. encurtar distâncias. tornar o impossível, possível. nem que seja só por um momento. 

arrastar. foi a palavra que eu usei. que eu não queria arrastar isso. e eu tava bem bêbada, fiquei o dia todo na rua, falei de tudo: de trabalho, dinheiro, de sonhos, de viagens, de sexo, de você. dei risada alta e peguei chuva. comi um docinho de côco debaixo de uma marquise no centro. beijei alguém na boca. fui parar num rodízio de sushi com uma amiga. cheguei em casa. 

e aí o vazio de você me arrastou. fiquei pensando em todos meus imediatismos e urgências, em como eu não suporto você colocar limites porque eu acho que esses limites vão me afastar de você, mesmo que eu entenda que eles sejam a sua condição para se aproximar de mim. racionalmente, eu entendo. eu entendo tudo. mas meu coração é um lugar vermelho intenso, onde as coisas batem e ferem, se curam e se movimentam com uma rapidez ridícula. 

eu te disse que não sabia se queria arrastar. mas eu sei a resposta. não quero arrastar. mas sabe o que eu acho? que você vai criando suas garantias silenciosas e eu fico aqui achando que só eu que tô sentindo tudo, que você tá firme e seguro, que sou um brinquedo de morder pra um cachorro de apartamento. faço barulho, cumpro minha função. eu sinto que eu não sei o que você quer. não sei o quanto você me quer - e você reforça isso enquanto sente prazer comigo, à distância, e fala que já tive mais poder sobre você do que hoje. qual é a sua? o que você quer dizer? 

esses dias eu tava aqui lendo nesse blog as coisas que eu escrevia e percebo que eu sempre quis viver uma fantasia - como uma forma de me distrair de uma realidade bem bosta. eu ia usar uma palavra bonita, mas não tem. realidade de merda. e não tem nada mais poderoso do que uma fantasia não vivida. esse é o maior poder que você exerce sobre mim: ser algo que eu não vivi ainda. 

e pior que eu acho que essa resposta você já me deu, sabia? você fala que sua vida caminha em outra direção. que quer que eu lembre de você em outros sexos daqui 5 anos. não sei se você tá pronto pra tornar a fantasia realidade. eu sei que eu estaria. 

fartura. sina. tô farta dessa sina. tô farta de te oferecer a realidade e receber outra fantasia, outro fetiche. áudios bêbados falando que me ama. limites e restrições no dia seguinte. quando eu e você sabemos que se você falasse que sim, eu te receberia sem fantasias. seria só eu. e talvez seja pouco, mas é tudo que eu tenho. eu. 

um grande amor exige de nós uma grande capacidade de amar. eu te amo muito e diferente dos outros 400 textos que escrevi para pelo menos 10 amantes diferentes, o seu eu pus seu nome, que é pra eu lembrar. eu quero lembrar de você daqui 10 anos, quando eu for recolher o que eu te escrevi pra publicar. quero lembrar que eu falei tudo, sem rodeios, sem eufemismos, sem espaços cinzas onde o vermelho se perde. 

eu não quero pensar em você no sexo de outro. quero pensar em você no seu sexo, me vendo dentro da sua retina. nada de pequenos feitiços, quero o feitiço inteiro. 

quero me olhar lá da frente e perceber que não faltou amor, faltou disposição. ou será que faltou? não sei. acho que não entendo o que você fala. parece que você fala uma coisa, querendo dizer outra, agindo de outra tal maneira. me perco entre sua intenção e fala. 

é irônico viver na fartura e não se ter o que mais se quer. sempre dou um sorriso entre lágrimas e me pergunto quenhé que escreveu esse roteiro maldito. e aí lembro que fomos nós. divido essa caneta com você, mas escrevo em letras garrafais de propaganda de supermercado e você escreve num idioma que ainda não leio. 

tem coisas das quais não se pode fugir. e não tô fugindo desse nós imaginário e bonito. tô querendo correr dele pra um nós real, vivo. presente. falho, esquisito, truncado, torto, ajustável. te quero presente. 

pensa com carinho. 

te amo. feliz ano novo. 

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