vôo e pouso.
quero alguém para voar comigo. sem essa de voos longos que exigem muito; pode ser daqui pra cá com franqueza, mas desejo. quero alguém para voar comigo; alguém que vá com medo mesmo, de altura. mas que confie que eu não tenho medo - e talvez esse seja nosso atestado de vôo. quero alguém que não pense muito antes de voar comigo, mas que chegue com o equipamento necessário. que mais do que falar que me ama, seja provar do gosto diário desse amor, da altitude, da falta de ar; do inteiro desconhecido que é ser e estar comigo, pulsante e vivente, ardente e derradeiro. e se a oferta de voo me cansar, que eu me transforme em porto e te receba como quem recebe visitas. quero alguém que ancore comigo. quando paro e penso em tudo, entendo que te quero disposto, mas disposição não se quer; ou se tem, ou se finge. e fingir para mim nunca funcionou bem. quero que você me queira com a pressa que eu te quero, para voar e ancorar, numa dança de vida que nunca termina: só pausa e se mexe, como um filho que nunca é parido. ao contrário dos nossos filhos, que paridos seriam se você adentrasse minha casa, me comesse, se lambuzasse, vivesse, me possuísse com a dor e a paixão que nos são inerentes. quero alguém para gozar comigo. um gozo abundante e pujante, que não acaba quando termina. quero alguém para voar comigo, ou para que eu voe para perto, ou você pare de voar longe. e juntos em rotas infindas, que sejamos eu e você, gelados pelo frio sob as penas. quentes de querer. abastados da imensidão de nós. faltantes e inconsequentes. apaixonados e irresponsáveis. estáveis e contínuos. alguém como você, para voar e pousar com alguém como eu.
Comentários
Postar um comentário