Co-existências

Eu não sei o que pensar, não sei se minhas inflexões serão justas o suficiente ou se vão exprimir um sentimento carregado de decepções. Jamais serei a favor de usar a maturidade como escudo para não sentir; caso eu não o faça, terei te aceitar teu comportamento como egoísmo, sim. Sei que minha felicidade é pornográfica, agressiva, por vezes ofensiva. Talvez te pareça pouco inclusiva. Mas ah, que grande bobagem, tu sabes das dores que carreguei. É que eu encontrei no amor uma resposta pra todas as pontas soltas que um dia eu te contei, não sei se lembras. Que a dor que formigava minha pele era falta de andar de mãos dadas. São soluções diferentes das que eu imaginava. Nunca precisei de psicólogo, eu precisava mesmo era de ser amada. De ser Amanda. Não lhe digo que eu mudei, não, estou ciente do que sou, por ora. O que causa incômodo mesmo, aquela dor estranha, por vezes raivosas é não ser empático. 
Sentimentos podem coexistir. Além disso, eles existem. Sim, eles existem. Tão reais quanto eu e você. Tão sombrios quanto o medo. Entretanto, sentir não é não ter medo. É se tornar amigo dele. E quando o sono chegar, deixar os pés de fora do cobertor, afinal, há males tão grandes que não caberiam debaixo da cama. 
Agora, meus desafios são bem leves e não se ofenda, tua ajuda é o que me fez chegar até aqui. Mas há alguns mistérios no coração que só quem os procurou em mim pode me ajudar a desvendá-los. Há um mar inteiro em imensidão de amar, de querer. Minha canoa é pequena e talvez nem me caiba. Perdi meus remos quando dei a ele minhas duas mãos, com as palmas viradas pra cima. Não queremos sair do lugar. 
Minha vida agora cabe numa fração de segundo, nos segundos que tomam um abraço. No sono compartilhado. Num novo vocativo, "meu amor". A presença de ser chamado assim sempre me soou necessária. Adiciona um peso ao meu nome pessoal. Reconheço que sempre fui digna desse amor. Estou pronta a recebê-lo. 
Meus dias se escorrem de mim sem que eu dê a eles um sentido que de mim fora cobrado um dia. Eu sou brilhante. Mas por enquanto não quero fazer nada. O ócio me fez ter dimensão da realidade, sabes. Fez-me entender que a vida é como meus dias vazios, se pensares bem. Começam com meu despertar e se findam com o meu adormecer, não importa o que eu faça entre eles. Nada importa, na verdade. E isso é de uma beleza infinita; a escolha é o maior ato político que podemos executar. 
Eu escolhi me entregar a o que quer que seja. 
Penso que talvez hoje não me entendas. Me culpes. Vá lá, atire em mim pedras amarguradas de um pseudo-abandono. É que escolhi não ter mais escolhas. 
Aprendas a co-existir. Co-operar. 
A amar, quem sabe? 

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