Do amor (dia 99)

Reflito por vários momentos. 
Sou incapaz de compreender como todos nossos passos nos trouxeram até aqui. Acho que já disse isso aqui algumas vezes e a repetição é o que me faz internalizar e nutrir um ódio de tudo que insisto em continuar escrevendo. Tudo parece ter o mesmo radical, aquela essência idêntica que só troca de lugar. Do amor, vieram todos meus dias. O amor cabe em instantes pequenos, vem em doses homeopáticas e anestesia todos meus sentidos. É assim. Pra todos os lados que olho, reflexos de você me perseguem como sinas e talvez sejam mesmo. Minha cama não guarda seu cheiro e não sei porque guardaria. Vago entre as nossas lembranças que se acumulam aos montes. No caderno que ganhei para escrever sobre todo meu sexo, desisti de te registrar. Se eu fosse contar quantas vezes sua mão me tocou, me tateando no escuro, procurando uma fresta de luz em que você pudesse ver meus olhos bem fechados, onde eu quase rezava, me faltaria palavras e páginas. E quando ouço você ofegar nos meus ouvidos, me transbordo em mim. A beleza que não foi apagada pela evolução. O que nos torna animais e traz um pouco de humanidade às cinzas que fomos jogados. Ao vazio de perseguir uma felicidade que nunca existirá de fato. A obrigatoriedade de ser útil mesmo. Sempre lhe digo que quero você dentro de mim. E você me pede pra repetir, troca a ordem das minhas palavras e me faz soltar verdades que estavam travadas entre a boca e o umbigo. Cada instante que vivo com você é um infinito paralelo que brilha e não se apaga, que me faz doer o peito por não te ter deitado nele e a saudade que eu sinto é genuína. Um dia, isso vai acabar. Porém, dessa vez, a realidade não tem sentido. 

Quando eu tinha 15 anos, eu achava que o mundo poderia ser um lugar bom. Mas só poderia. Nunca foi pra mim, pelo menos. 
E mesmo sem querer dividir nada, eu pedi o amor. Um amor que cuida e acaricia. Um amor presente e rotineiro, com quem dividiria as suavidades do meu dia. 
Eu pedi e me lembro bem. Da tolice, da espera. De cada novo aparecer, uma esperança falsa de que fosse ser diferente. Nunca fui de acreditar em tudo que eu via. Nem mesmo em você eu acreditei. 

Fui rompida. 

Comentários

Postagens mais visitadas