Do amor (dia 167)
E então: tempo. Nas revistas femininas que nos ditam manuais de como tudo funciona, 'dar tempo' era a expressão nítida do desinteresse. Era adiar um fim iminente, era a tortura de quem corta membro por membro e se delicia com toda a dor causada. (...)
Eu olhei nos seus olhos e vi um espelho embaçado pós-banho. Quis passar minha mão em você e ver meu reflexo, mas prendi meus braços em volta de mim, numa tentativa de resgatar um pouco de dignidade e autoafirmação. Eu vi seus olhos negros cheio de dúvidas e eu quis me ver. Eu queria poder me enxergar dentro de toda a raiva que eu senti, dentro de toda minha indignação. Queria te fazer lembrar dos momentos que moram em mim, de todos nossos dias de amor, mesmo antes de ser amor. Gravar na tua retina o que na minha já tem até cicatriz. Te fazer me ver pelos teus óculos vermelhos. Dançar nu com você, embriagados um do outro.
Você estava tão bonito... Eu só queria terminar tudo. Voltar pros meus dias promíscuos e vazios, que tanto me divertiam. Pra minha realidade intacta. E não pra essa fantasia em frangalhos.
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