Recado *

"Não pode a forma prevalecer sobre a essência". Anotei isso num papel bem pequeno e branco e depois amassei. A forma do meu papel era feia, como se abandonada, bem bagunçada e carregada de um ódio emocional que surgiu não sei de onde. Entretanto meu pequeno papel continuou mensageiro e sábio, me dizendo aquilo que eu escrevi, mas não queria ler. É assim que eu sou. Essência forte, que de longe cheira, brilha, irrita, nauseia, surpreende, suspira e corre solta por onde lhe dão asas, por pedras que tenham espaço, por mundos que lhe ofereçam amor. Não sou a cara que me pintam, a maquiagem que esconde as olheiras, os boatos que circulam pelos folhetins diários da boca do povo. Não posso ser mensurada. E em meio à um espaço-tempo incerto, nessa clareza esquisita que cobre a vida: não tenho forma palpável. Sou solúvel, solvente, sol. 
No caminho do "torna-te quem tu és", nos relatórios de humor quase diários, tem pedaços inteiros de segundos meus. 

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