Aleatoriedades *

De repente me desliguei de tudo, fui pro mundo e fiz tudo que eu queria fazer. Os dias pararam de me prender e eu pude sair solta de noite, entrar e sair de ônibus vazios (amém por isso), escutar folk no vai-e-vem das ruas, numa cidade que parece uma releitura interiorana de uma grande capital. Estou minimizando os efeitos de você em mim e me pego fazendo menos perguntas. Aceitando mais. Dando sem receber nada em troca. Me desfazendo de preconceitos e de vergonha. Me desfazendo de maquiagem e me assumindo linda assim, às 23hrs da noite no centro da cidade. 
Estou me desconstruindo. 
Estou me perdendo menos. Mesmo porque, não há nada mais a ser perdido. 
Meus conflitos, de súbito, evaporaram. 
Acredito que essa seja parte da felicidade que eu tanto procurara. Parte de uma liberdade utópica que só o tempo pode proporcionar. Estou de férias de mim, de tudo. Menos do mundo, que é de onde nunca supus tirar férias. Agora compreendo o quão doce as coisas são, mesmo dentro de uma amargura natural que se estende em nós. Agridoce. 
Meu adeus sereno começa a baixar próximo a grama onde estou sentada. Mas ainda há uns metros nos separando, algumas caixas no guarda-roupas, algumas estantes cheias demais para serem abandonadas. Ainda há muito o que ser visto, muita música pra ser cantada. 
Mesmo que de forma irrelevante, meus pés se tornaram bonitos pra alguém. E pra mim eles também são. Que eles continuem a me levar, a me guiar por tortos espaços-tempo, por tortas de coco e limão, por sorvetes caros que fazem doer a alma, de tão bons. 
A tendência do ser humano é criar rotinas, padrões. A liberdade lhes dá medo, confundem-lhe os sentidos. Bagunça a cabeça essa coisa de não ter raízes. Dentro da minha rotina desorganizada e desconstruída (que reflete muito de mim, na verdade), pude ser permissiva com o meu tempo, minha posse de horas e sumir. Dar na telha um sorriso e dar o pé. E dar-me doces. 
É, o amor vem mesmo para os distraídos. 

Comentários

Postagens mais visitadas