Beber-te *

Quero te dar um pedaço de mim. Talvez uma mecha do meu cabelo, que é a única coisa visível e material que eu consigo arrancar. Vem florescendo em mim cores que nunca vi. E eu penso em arrancá-las. Dramatizo tirá-las de mim, mas não sei onde colocar. Queria poder plantar-me em ti, fazer de nós um jardim, nessa infinita primavera. "É clichê de flor", eles dizem, "acham que a primavera é só sobre o amor". Demora, eu penso. Demora pra que cheguem primaveras, assim como todas as estações e seus reais significados. O tempo é meu. Estaciono meu pesar da distância e as saudades do verão junto a esperança do vento quente que se arrasta. Hemisférios. Me divido de norte a sul e sinto duplos espasmos quando você some pelas linhas tortas do mapa. Pergunto se voltas. Mudo de cor. E quando decido por arrancar tudo, você volta e empurra as raízes fundo. Quero te dar minha pele. Quero fazer chá com as folhas do nosso encontro, folhas que só crescem. E te beber durante o ano inteiro. 

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