2014 *


Janeiro
No calor aprazível do verão eu de nada sabia
E melhor que fosse mesmo assim, desconhecido
Devagar dei meus primeiros passos a um abismo,
Cercado de água fria...
Fui suspensa por um beijo que não terminou
A névoa acerca do futuro – espessa.
Fevereiro:
Vesti minha farda pela última vez
As cenas do combate não me serviam de alento
Tampouco me amedrontavam
Eu emergia de um frio espiritual que contrastava
Eu me atrasava pro trivial
Em dia com os mais travessos sonhos
Certa de que o tempo havia de passar rápido...Nada passou.
Março:
Marcando os dias na parede, no teto, no chão
Eu sabia do fardo, da farda e da fuga
Pois que eu encontrei numa revista
Um chamado vindo dos céus, um anúncio
Prenúncio de um grande amor, de um grande legado
Eu viajaria por mares intocados, por terras antigas
Seria tudo que sempre quis e mais – sempre mais.
Abril:
Meus outonos consumados em um número insignificante de anos
De que me adiantariam, tão poucos?
No limbo me fiz ilegal, infração doce da juventude
Me enchi de álcool, de planos
A distância me fez cruel
Vivi como quem morre, mas não acordei
Maio:
Minhas diferenças me tornavam um igual detestável
Cresci em astúcia e me modifiquei
Tirei as malas debaixo da cama e as enchi com meu vazio
Dos resultados que tive, atestei minha sorte
Caminhei pelo aeroporto em meus sonhos
Mais uma vez, eu partia
Junho:
Passei dos limites, apostei meu corpo em jogo de bilhar
Me dei à um desconhecido, repugnante
Parada no frio que me cortava
Ouvi-lhe os gemidos, gélida
Recuperei-me no anúncio que me alertava
“O segredo é o ardor”,
Embarquei cega.
Julho:
Não que eu não quisesse alimentar
Tuas fotos me impregnavam a retina
Eu me embebia numa fantasia homérica
Eu era tua deusa e você, mortal
Corri para outros amantes, mas não fui feliz
Não quis saber tuas verdades, só teu gosto.
Agosto:
Desgosto profundo pelo pouco tempo que
Grande se fazia nos meus lençóis
Meu peito se consumia em cólera
Onde estavam meus planos? 
Perdidos, pois
Beijei bocas de plástico, a fumaça dos cigarros:
Espirais de intensa impotência
Setembro:
Vaguei pelas ruas desertas no noturno
Do ócio, meus ossos gritavam
Meu corpo era toda a dor de te amar
E caminhei direto pro exílio
Pras cavernas abissais desconhecidas
Não havia luz
Outubro:
Dos prazeres que encontrei
Nenhum deles apagou as marcas que foram deixadas
Quis me render, não havia saída
Minhas paredes mudaram de cor
Salmão pálido de fungos que me assombravam
Eu não dormi.
Novembro:
As preces se fizeram junto ao dia
Sem que eu nada pedisse
Não creio no divino, nem no inferno
Minha casca curada estava, impenetrável
Vi tuas fotos a me perseguir, acompanhado
Dezembro:
Minha beleza era de um único tom de prata
Frio.
Me enrosquei no passado e fizemos amor
Da atenção que recebi não resta nada
Só me restam as esperanças,
Essas de mim jamais fugiram. 

Comentários

Postagens mais visitadas