11/03/2015

Sou órfã. Fui gerada e abandonada com uma frequência cismíca, doentia. Um aborto vivo de uma natureza selvagem. Então eu vim, na amplitude da humanidade, sendo mulher, sendo pequena, perdida e nada. Eu vim parar num mundo caótico, nada bonito. Eu apenas vim. Fui me levando, me empurrando, vivendo numa existência mascarada de alegrias frugais. Remei no mar de uma cidade sem mar, sem amar, ser margem. Cruzei o litoral sem quaisquer cruzados, num carro desconhecido que se encheu de areia e de dor. Mudei de canal, interrompi estampidos do meu próprio coração que se cortava no meu sangue ácido. Me joguei numa dança, num jazz quente e cheio de notas, numa expressão densa de prazer. Um prazer que salva. Uma salvação que vicia. No meu ser só cabem desilusões. 

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