feitiço.

eu adocei você. e eu nunca tinha adoçado ninguém antes. numa taça furta-cor, coloquei seu nome dobradinho num papel e bezuntei de mel, esperando que você se desmanche açucarado - igual quando abro a porta e você me olha, entre o desnorteio e a perseguição. 

eu adocei você, numa esperança febril que a gente continue. continue trocando esse cheiro, veias, pele, olhos, boca e sangue. na mesma taça que bebemos vinho, eu adocei você. na mesma sala que me viu nua pela primeira vez, adocei você. 

o mel dourado escorre pelas paredes, espalha-se pelo chão, cabelo e roupas. e me pergunto se tô ficando doida, ou se realmente existe algo de feitiço na distância que habita entre o meu peito e o seu. sob a chama da vela que queima, no meio do mel, no meio de tudo, te imagino com os olhos vermelhos. 

adocei você, e adoçaria todos os dias, até enjoar - e quem sabe, aí, eu não me aquiete. 

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