fogo, fogo, fogo

te escrevo enquanto fumo um cigarro barato, fedido 
embriagada de muitas palavras que eu queria te dizer
mas que não saltam da língua para a boca
presas no palato, elas rodam 
e eu sinto cada uma como hélices 


anseio seu toque, sua pele, seu cheiro 
como se dependente eu fosse
e me pego pensando em você como uma adolescente 
ansiosa, insegura, com medo 

brinco com fogo e me queimo no caminho 
em chamas, camadas, cabelo, pele, sol 
não me canso de ouvir sua voz, beijar sua boca 
de imaginar seu corpo envolto no meu como corda 

se respiro fundo, seu cheiro rodopia no ar 
e me pergunto se é feitiço
enquanto a lembrança do toque me faz de refém 
e piro, lancinante e colérica 
esperando outrem 
na esperança que venha me atravessar.  

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