Confissão diurna *
Hoje acordei em meio à chuva e o despertador. Acredito que eu que tenha acordado o pobre alarme, que queria me poupar de mais um dia. Mas mesmo que eu quisesse dormir; mesmo que eu quisesse esquecer o que vi; mesmo que a realidade se fizesse por vezes cruel eu eu culpa alguma tenho do acaso que me distrai - eu tive que acordar. E nos meus sonhos rasos de quem está prestes a levantar, vi sua nova paixão, vi uma moça bonita, de vermelho, deitada contigo em meio aos lençóis. Ouvi gritos distantes (seriam de prazer?), vi na curva do teu olhar talvez uma alegria. Impossível para mim saber o que é o amor. Portanto não sei o que sentes nem quanto. Não sei se quando acordas, em meio à chuva e ao despertador, pensas e mim. Nas minhas paixões. Nos meus lençóis. Estamos longe demais para controlar-nos, estamos a mercê de todo o destino, que mesmo que tenha nos alcançado e nos colado feito siameses, hoje me arranca à fria-pele e te cola um novo selo. Minha tristeza tenta a todo custo se esconder na falsa renovação que se arrasta, faltou-me coragem para dizer aos amigos que te perdi. A tua liberdade me incomoda no mesmo tanto que tua beleza me distrai. Por mais que eu aceite, jamais serei a mesma. De mulher forte, me vi criança, perdida em pesadelos e um medo recorrente de beber água no meio da noite. E quando vens me ver? E eu brado que a verdade me libertaria, mas não sinto como se ela fosse capaz de desvencilhar meu pensamento do teu corpo, da tua palavra cantada, da tua cabeça no meu peito. Hoje a chuva me lavou por inteiro e eu quis que ela me levasse. Acordei e botei no rosto uma máscara feliz de se contemplar. Eles não hão de saber. O tempo que me fez te perder [...]
Eu te amo.
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