Est vitae essentia *

Você já amou alguém? Não, meu amigo, garanto que não. Não como eu amei. Um amor sem prelúdios, um amor desamado. Não havia palavras nem olhares, só amor. Do lado de cá eu sonhava, confabulando com o tempo, contando-lhe nossos casos futuros. Porque meu amor vive em outra época, entende? Ele transpõe as barreiras do tempo, colide com a proteção divina e dele, agora, só recebemos os ecos de algo que retumba milhas na frente. Você já disse a alguém 'eu te amo'? Caso tenha dito, desperdiçou verbos e esperanças. Porque o amor, amor como o meu, amor puro, não é dito. Ele é secreto, se abriga no fundo de nosso ser, se esconde do mundo. Pois o mundo é deveras perverso, mundo-vilão. Nesse mundo há somente estilhaços de amor, uma deturpação daquilo que nasce nas estrelas. Numa manhã clara, ao despedir do objeto de meu amor, uma troca rápida de palavras se seguiu e minha respiração ofegante esbarrou em algo. Eu não pude ver, não com estes olhos. Por isso os fechei e deixei que a sensação inundasse meu corpo, correndo com meu sangue. Então, finalmente, senti. O futuro distante me mostrou o que é o amor. E, adverto, não há definições. Amor pra mim, caso possa ser comparado, parece-se mais com uma fita de Buñuel, recheada de toques pessoais, que só quem o conheceu compreende. Dotado de sutis críticas, artefatos valiosos. Naquela manhã, se eu pudesse me mover, teria tocado no amor. Porém hoje eu o esqueço. Só por hoje. Porque na infinidade de dias que se seguiram eu me recordei. Você já amou hoje, amigo?

Comentários

  1. Essa pequena cabeçuda estava juntando suas referencias, construindo seus repertórios e vivendo emoções novas TODOS os dias. Talvez devamos trabalhar com os texto desse tempo com a mesma delicadeza da colagem que você estava tentando fazer naquele momento. Aqui há um trecho precioso como texto em si, que é a partir de "o futuro distante me mostrou o que é o amor."

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