Do amor (dia 53)
Naquele dia, no carro. Eu te esperava na beira da estrada, em pé num pedaço mais alto pra te ver chegando e ajeitar meu cabelo - na época comprido - como se não tivesse te visto. Quando sentei no banco do passageiro, vi que você usava óculos vermelhos. Eu achei imensamente rude, você não me levava à sério, só pode. Fechei a cara e cruzei os braços pros seus óculos ridículos. Até que você me disse "coloca em você", e eu senti raiva. Eu nem queria estar vendo aquela droga. E então, eu coloquei. Eu vi tudo vermelho, minhas mãos, o céu nublado, os carros. Eu te vi vermelho.
Vermelho sempre foi minha cor preferida.
Eu estava irritada. Você me leu.
E paramos o carro atrás do cemitério, com a grama verde reluzindo em vida sobre os mortos. A silhueta da cidade subia, morta. Nós víamos tudo vermelho. E quando eu te beijei, não quis mais outras cores. Nos teus braços eu sentia, vermelho.
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