Do amor (dia 66)

Essa folha em branco que aparece toda vez que vou escrever não me ajuda em nada. Me lembra que eu não sei como começar. Que eu não sei como entrar. Que eu sempre forço uma entrada triunfal no primeiro parágrafo e vou morrendo no transcorrer. No transcrever. No transcender. 
Eu não sei ser suave, meu amor é torto e um pouco complicado. Colérico. 

Quando você me olhou no escuro, aquele dia. Você passava as mãos nas minhas pernas e eu sentia o calor da tua alma na minha. É que eu prefiro o escuro. Sou meio sensível à luz e não enxergo bem. Vi seus olhos pretos vidrados na minha silhueta. Você me segurava o suficiente para eu não querer ir embora, querer morar naquele momento. E depois quando deitamos em lados opostos, tu reparou no encaixe que nosso corpo fez? Claro que reparou. É que meus pés são do tamanho das suas mãos. Sou pequena e caibo em todo lugar. Não preciso que me carregue, quero que faça presença. Que tire de mim a fumaça, que acarinhe meu cabelo até eu dormir. 

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